O uso de cannabis tem crescido no Brasil, inclusive no contexto medicinal. Mas, à medida que mais pessoas têm acesso a produtos com canabinoides em casa, os casos de intoxicação animal por cannabis também aumentam. Cães e gatos são os principais afetados, mas nem sempre os tutores reconhecem os sinais rapidamente. Este artigo detalha os sintomas, riscos, tratamentos e formas de prevenção da exposição acidental.
O que é intoxicação animal por cannabis?
A intoxicação animal por cannabis ocorre quando um animal de estimação entra em contato, ingere ou inala produtos com tetrahidrocanabinol (THC), o principal composto psicoativo da planta. Diferente do CBD, que tem baixo potencial de toxicidade, o THC pode afetar severamente o sistema nervoso central de cães e gatos, se não usado de maneira terapêutica e com acompanhamento.
Os animais são mais sensíveis ao THC do que os humanos. Pequenas quantidades podem causar efeitos importantes, mesmo que não sejam letais.
Sinais clínicos da intoxicação por THC em cães e gatos
Os sintomas variam conforme a dose e a forma de exposição, mas os mais comuns são:
- Incoordenação motora (parecem “tontos”)
- Salivação excessiva
- Vômito
- Midríase (pupilas dilatadas)
- Tremores musculares
- Vocalização incomum
- Sonolência ou hiperatividade
- Incontinência urinária
- Hipotermia
- Dificuldade respiratória
Em casos mais graves, podem ocorrer convulsões, coma e, raramente, morte. Por isso, todo caso suspeito deve ser avaliado por um médico veterinário. Se você ainda tem dúvidas de quais são os principais efeitos da cannabis, confira nesse artigo completo.
Produtos que mais causam intoxicação
Muitos tutores não imaginam que alguns produtos “comestíveis” ou manipulados com cannabis são altamente perigosos para os animais. Entre os mais comuns estão:
- Brownies, cookies, gummies e doces com alto THC (açúcar e chocolate agravam o quadro)
- Óleos e tinturas de uso humano
- Flores in natura deixadas ao alcance dos animais
- Vaporizadores ou cigarros parcialmente consumidos
O perigo aumenta quando esses produtos estão aromatizados, com cheiros e gostos atrativos para cães e gatos.
Diagnóstico: como o veterinário identifica a intoxicação
O diagnóstico é feito, em geral, com base nos sinais clínicos e na história fornecida pelo tutor. O grande desafio é que muitos tutores não sabem ou não relatam a presença de cannabis no ambiente. Testes laboratoriais específicos são raros na medicina veterinária e, quando existentes, pouco acessíveis.
Por isso, é essencial que os profissionais de saúde animal incluam a possibilidade de exposição ao THC no diagnóstico diferencial quando houver sinais neurológicos agudos de origem inexplicada. Além disso, se você é prescritor e ainda não entende como os canabinoides agem no corpo, veja nosso artigo sobre os receptores canabinoides e como eles funcionam.
Tratamento da intoxicação animal por cannabis
Até o momento, não existe antídoto específico para a intoxicação por THC em animais. O tratamento é sintomático e de suporte, podendo incluir:
- Indução do vômito (quando seguro)
- Lavagem gástrica
- Uso de carvão ativado
- Fluidoterapia intravenosa
- Monitoramento de temperatura, frequência cardíaca e pressão arterial
- Medicamentos para controlar tremores, convulsões e agitação
A maioria dos casos se recupera bem com atendimento rápido. O prognóstico é considerado favorável, desde que o animal receba o suporte adequado. Além do THC e do CBD, existem mais de 120 canabinoides e seus efeitos ainda estão sendo estudados, saiba o que são canabinoides e como usá-los de maneira medicinal.
Como prevenir a intoxicação de cães e gatos por cannabis
A prevenção é simples, mas exige responsabilidade:
- Nunca deixe produtos com THC ao alcance de animais
- Armazene flores, vaporizadores e frascos em locais fechados
- Evite usar cannabis perto de cães e gatos
- Oriente familiares, cuidadores e visitantes sobre os riscos
Se você usa produtos com cannabis para fins medicinais, redobre a atenção com embalagens, descarte e armazenamento. Se você é prescritor de cannabis e ainda tem dúvidas de como fazer a prescrição de cannabis, confira nosso artigo sobre as melhores práticas na prescrição de cannabis.
Cannabis medicinal veterinária: uma área em crescimento
Apesar dos riscos, é importante não demonizar a cannabis. O uso terapêutico de derivados canábicos já é uma realidade em clínicas veterinárias no Brasil e no mundo, com prescrição principalmente de CBD.
No entanto, o uso deve ser orientado por profissionais com formação e conhecimento específico, respeitando dose, formulação e indicação adequada para cada caso.
Conclusão: atenção e informação salvam vidas
Com a popularização da cannabis, é essencial que tutores e profissionais da saúde estejam atentos aos riscos de intoxicação animal. Conhecer os sintomas, agir rápido e manter o ambiente seguro faz toda a diferença.
Ao mesmo tempo, é preciso seguir discutindo o uso terapêutico da planta com responsabilidade, ciência e formação adequada para garantir segurança aos pacientes humanos e animais.
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