O uso de cannabis medicinal e do CBD em pacientes com autismo ou TEA (Transtorno do Espectro Autista) na terminologia mais correta tem ganhado cada vez mais destaque em pesquisas científicas e na prática clínica de médicos, dentistas e até veterinários (no caso de pets com condições neurológicas). No Brasil, esse tema também está em ascensão, à medida que famílias buscam alternativas seguras e eficazes para lidar com sintomas que muitas vezes não respondem bem às terapias convencionais.
Mas o que já sabemos sobre a eficácia do CBD no autismo? Quais são os mecanismos de ação, os sintomas mais impactados, as evidências científicas disponíveis e os cuidados que devem ser considerados? Neste artigo, vamos explorar tudo isso de forma didática e detalhada, trazendo também como o Kaya Doc pode apoiar profissionais que atendem pacientes com TEA.
O que é o Transtorno do Espectro Autista (TEA)
O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades de comunicação social, padrões repetitivos de comportamento e, muitas vezes, hipersensibilidade sensorial. É um espectro porque varia muito em intensidade e nos sintomas apresentados.
Pacientes com TEA podem apresentar:
- Crises de irritabilidade.
- Ansiedade e insônia.
- Déficits de atenção e hiperatividade.
- Autolesão ou agressividade em alguns casos.
O manejo clínico é desafiador, exigindo uma abordagem multidisciplinar com terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicologia e, em alguns casos, medicamentos.
Como a cannabis atua em pacientes com TEA
O uso da cannabis em pacientes com autismo deve sempre ser avaliado de forma individualizada, levando em conta a idade, a intensidade dos sintomas e a presença de comorbidades. O ponto de partida para pacientes com autismo é geralmente o CBD isolado ou produtos broad spectrum, que não contêm THC, especialmente em pacientes pediátricos. Porém nem sempre esse é o melhor caminho, já que estudos tem demonstrado que o THC em conjunto com o CBD pode ajudar em outros sintomas e até mesmo, potencializar o efeito do canabinoide principal, por isso, formulações full spectrum tem crescido com os prescritores.
A regra mais seguida na prática clínica é o princípio “start low, go slow” — começar com doses pequenas e aumentá-las gradualmente, observando atentamente a resposta clínica e os efeitos adversos. Além da concentração, a forma farmacêutica também é relevante: óleos são os mais comuns, mas em associações e produtos importados é possível encontrar cápsulas, sprays, pomadas e até gummies, que podem facilitar a adesão em determinados pacientes.
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O acompanhamento contínuo é fundamental. Cada ajuste de dose deve ser registrado em prontuário eletrônico, e os familiares devem ser orientados a observar alterações de comportamento, sono e interação social. Esse monitoramento constante garante não apenas mais segurança, mas também maior clareza sobre a efetividade do tratamento ao longo do tempo.
Evidências científicas sobre cannabis medicinal no TEA
Os últimos anos trouxeram um número crescente de estudos sobre cannabis em pacientes com TEA, com resultados encorajadores:
- Um estudo israelense (Aran et al., 2019) mostrou melhora significativa em sintomas como ansiedade, crises de agressividade e distúrbios de sono após o uso de óleo de CBD com pequenas concentrações de THC.
- Pesquisa de 2021 (Barchel et al.) relatou que 83% dos pais observaram melhora comportamental em seus filhos, especialmente em agitação e distúrbios de sono.
- Um estudo retrospectivo de 2022 encontrou associação entre uso de cannabis medicinal e redução de crises de irritabilidade, com melhora da qualidade de vida em crianças e adolescentes.
- Em 2023, um ensaio clínico apontou que o CBD isolado reduziu sintomas de hiperatividade e impulsividade em alguns pacientes com autismo.
- Mais recentemente, uma revisão sistemática de 2024 destacou que, apesar dos resultados promissores, os ensaios ainda apresentam limitações metodológicas, reforçando a necessidade de mais estudos controlados.
Em resumo: os dados apontam melhora em sintomas como irritabilidade, sono e ansiedade, mas ainda não permitem definir protocolos padronizados. Confira todos os estudos mencionados na nossa seção de referências, ao final do artigo!
Sintomas do TEA mais impactados pela cannabis
Os estudos e relatos clínicos mais recentes apontam que a cannabis pode trazer benefícios importantes para diferentes manifestações do Transtorno do Espectro Autista. Esses efeitos não significam uma cura, mas indicam que os canabinoides, em especial o CBD, podem ajudar a modular sintomas que comprometem a qualidade de vida dos pacientes e suas famílias.
Além do THC e do CBD, outros canabinoides menores também tem se provado efetivos na hora de auxiliar pacientes com TEA. Confira nosso artigo completo!
Irritabilidade e agressividade
Muitos pacientes com TEA apresentam crises de irritabilidade que podem evoluir para comportamentos agressivos ou autolesivos. O CBD, com sua ação ansiolítica e estabilizadora, parece ajudar a reduzir a intensidade dessas crises. Em alguns casos, concentrações de THC em formulações full spectrum também podem contribuir, potencializando o chamado efeito entourage.
Distúrbios de sono
A dificuldade para iniciar e manter o sono é comum em crianças e adultos no espectro. O CBD tem sido associado à melhora da qualidade do sono, reduzindo despertares noturnos e ajudando na regulação do ciclo circadiano. Esse efeito se deve, em parte, à sua interação com receptores serotoninérgicos, que influenciam diretamente o padrão de sono e vigília.
Ansiedade e hiperatividade
A ansiedade é uma das queixas mais frequentes nos pacientes com TEA, e muitas vezes se manifesta em conjunto com sintomas de hiperatividade. A ação do CBD sobre receptores como 5-HT1A nos pacientes com autismo pode ajudar a reduzir a ansiedade generalizada e a agitação, tornando o paciente mais calmo e receptivo às terapias comportamentais.
Comportamentos repetitivos
Os comportamentos repetitivos e estereotipados são características marcantes do TEA. Embora os estudos ainda apresentem resultados mistos, há indícios de que a modulação do sistema endocanabinoide pode reduzir a frequência desses comportamentos em alguns pacientes. Isso pode estar ligado ao papel do SEC na regulação da plasticidade neuronal e no equilíbrio da transmissão dopaminérgica.
Além desses sintomas, a cannabis tem sido muito utilizada por pacientes com diferentes condições médicas e sintomas, que podem ou não, serem parte do dia a dia de alguém no espectro TEA, como a dor crônica, epilepsia, entre outros.
Cuidados na prescrição de cannabis em pacientes com TEA
A prescrição deve ser feita com cautela e individualização:
- Iniciar com doses baixas e aumentar gradualmente (start low, go slow).
- Avaliar o espectro do produto: muitas vezes, o broad spectrum (sem THC) ou o CBD isolado são mais seguros para crianças com autismo.
- Monitorar efeitos adversos, como sonolência, alterações de apetite e desconforto gastrointestinal.
- Registrar no prontuário eletrônico todos os ajustes de dose e respostas clínicas.
No Brasil, a prescrição pode ser feita via:
- RDC 327/2019 (farmácias): exige receita azul ou amarela, dependendo do teor de THC.
- RDC 660/2022 (importações): aceita receita C1 digital ou com carimbo.
- Associações de pacientes: também utilizam receita C1.
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O papel do Kaya Doc para prescritores que atendem pacientes com TEA
Para médicos, dentistas e veterinários que já lidam com pacientes com TEA, o Kaya Doc oferece uma série de recursos que tornam a prescrição mais segura e prática:
- Acesso a estudos científicos atualizados, com resumos claros sobre eficácia e segurança.
- Consulta ao COA (Certificado de Análise) de produtos, garantindo transparência sobre composição e qualidade.
- Comparador de produtos, que ajuda a identificar a melhor opção considerando espectro, concentração e preço.
- Prescrição digital integrada, com certificado ICP-Brasil, aceita em farmácias, importações e associações.
- Central de acompanhamento clínico, com prontuário eletrônico e histórico de cada paciente.
Esses recursos tornam a rotina clínica mais ágil, reduzem riscos e fortalecem a prática baseada em evidências.
O uso de cannabis medicinal e do CBD em pacientes com autismo é um campo promissor, que já apresenta evidências de melhora em sintomas como irritabilidade, distúrbios de sono e ansiedade. No entanto, ainda existem desafios importantes, como a falta de protocolos padronizados e a necessidade de mais ensaios clínicos robustos.
Para o prescritor, o segredo está em avaliar cada caso de forma individualizada, iniciar com doses baixas e acompanhar de perto a resposta do paciente. Nesse processo, ferramentas como o Kaya Doc são grandes aliadas, oferecendo suporte científico, prescrição digital e organização clínica. Cadastre-se gratuitamente hoje mesmo!
A cannabis não deve ser vista como solução única, mas como mais uma opção dentro do arsenal terapêutico multidisciplinar para pacientes com TEA e suas famílias.
Referências
- Aran A, Harel M, Cassuto H, et al. Cannabis-based medical treatment for autistic spectrum disorder: A retrospective feasibility study. J Autism Dev Disord. 2019. PMID: 31237191
- Barchel D, Stolar O, De-Haan T, et al. Oral cannabidiol use in autism spectrum disorder to treat related symptoms and comorbidities. Front Pharmacol. 2021. PMID: 34911567
- Pretzsch CM, et al. Cannabis-based medicines in autism spectrum disorder: A systematic review. Eur Child Adolesc Psychiatry. 2022. PMID: 36386202
- Pavăl D, et al. Cannabidiol in autism spectrum disorder: A randomized, placebo-controlled clinical trial. 2023. Thieme Connect. DOI: 10.1055/s-0043-1774486
- Silva EA, et al. Medical cannabis in autism spectrum disorder: a systematic review and meta-analysis. 2024. PMID: 38931353
- Rodrigues L, et al. Efficacy of cannabidiol for core and associated symptoms in autism spectrum disorder: A review. 2024. PMID: 39029984
- Eran A, et al. Long-term follow-up of medical cannabis treatment in children with autism. 2024. PMID: 39693273