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Os efeitos da maconha variam muito de pessoa para pessoa — e isso depende não só da dose ou da forma de uso, mas principalmente dos compostos presentes na planta. Os dois mais conhecidos são o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC), e cada um deles tem um impacto diferente no organismo. 

Vamos explicar, de forma simples e baseada em evidências, como o corpo reage à cannabis, quais são os efeitos mais comuns do CBD e do THC, e o que dizem os estudos clínicos sobre segurança, riscos e benefícios. 

THC: o composto psicotrópico e seus efeitos mais evidentes 

O THC (tetrahidrocanabinol) é o principal composto psicotrópico da cannabis. Ele é o responsável pelos efeitos clássicos associados ao uso adulto da planta — como euforia, alteração da percepção sensorial, aumento do apetite e, em alguns casos, ansiedade. 

O THC se liga diretamente aos receptores CB1 do sistema endocanabinoide, que estão concentrados no cérebro. É por isso que seus efeitos são tão perceptíveis a nível neurológico e comportamental. 

Efeitos comuns do THC: 

  • Euforia ou sensação de “barato” 
  • Aumento da sensibilidade a sons, cores, cheiros 
  • Lapsos de memória de curto prazo 
  • Boca seca e olhos vermelhos 
  • Relaxamento muscular 
  • Aumento do apetite (conhecido como “larica”) 
  • Diminuição da coordenação motora 
  • Em doses mais altas, pode causar paranoia, ansiedade ou confusão 

Importante: nem todo produto de cannabis contém THC em quantidade significativa. No Brasil, apenas produtos com teor abaixo de 0,2% são autorizados para a maioria dos pacientes, conforme a RDC 327/2019. 

CBD: o canabinoide mais usado na medicina 

O canabidiol, ou CBD, tem ganhado cada vez mais espaço na medicina, justamente por apresentar efeitos terapêuticos importantes sem causar alteração de consciência. 

Diferente do THC, o CBD não se liga diretamente aos receptores CB1 e CB2, mas modula o funcionamento do sistema endocanabinoide de forma indireta — o que o torna seguro e bem tolerado na maioria dos casos. 

Efeitos comuns do CBD: 

  • Redução da ansiedade 
  • Diminuição de inflamações 
  • Relaxamento muscular e melhora do sono 
  • Redução de convulsões (principalmente em síndromes como Dravet e Lennox-Gastaut) 
  • Potencial neuroprotetor 

Apesar de não causar efeitos psicotrópicos, o canabidiol pode gerar sonolência, principalmente nas primeiras semanas de uso ou em doses mais altas — o que precisa ser levado em conta na hora de prescrever ou orientar o paciente. 

Para quem quer se aprofundar, indicamos a leitura complementar: “Como médicos podem usar as evidências científicas a seu favor? 

Cannabis sativa ou indica: isso afeta os efeitos? 

Muitos pacientes e até alguns profissionais ainda usam os termos cannabis sativa e cannabis indica como se fossem sinônimos de efeitos estimulantes ou sedativos. Mas essa divisão botânica não é a melhor forma de prever os efeitos da planta. 

Na prática clínica, os efeitos da maconha são influenciados por: 

  • A presença de terpenos (como mirceno, limoneno, linalol, entre outros) 
  • A forma de uso (óleo, cápsula, vaporizador, via sublingual, etc.) 
  • A tolerância e sensibilidade individual 

Exemplo: uma variedade de cannabis indica rica em THC pode causar euforia e acelerar o pensamento, enquanto uma cannabis sativa com alto teor de CBD pode induzir relaxamento e ajudar no sono. Por isso, o nome da variedade não é suficiente para prever o efeito. 

Canabidiol dá sono mesmo? Quando isso é desejável? 

A sonolência é um dos efeitos mais relatados pelos pacientes que iniciam o uso de CBD, especialmente à noite. Mas isso não é necessariamente ruim — em muitos tratamentos, esse efeito é desejado. 

Quando a sonolência é um efeito terapêutico: 

  • Em casos de insônia, distúrbios do sono ou ansiedade noturna 
  • Para pacientes com dor crônica que têm dificuldade em relaxar 
  • No tratamento de condições neurológicas que causam agitação 

O efeito sedativo do canabidiol pode ser mais evidente em produtos full spectrum, que incluem outros canabinoides e terpenos com propriedades calmantes. 

Já em pacientes que precisam se manter alertas durante o dia, é possível ajustar o horário da dose ou trocar a formulação para uma mais adequada ao perfil. 

Efeitos adversos da cannabis: o que observar 

Apesar do uso medicinal da cannabis ser geralmente bem tolerado, existem efeitos adversos que podem surgir, especialmente quando há presença de THC ou quando a dose não é ajustada corretamente. 

Efeitos adversos mais comuns: 

  • Tontura ou queda de pressão 
  • Sonolência excessiva 
  • Alterações no apetite 
  • Náuseas (mais comum em doses altas de THC) 
  • Irritabilidade ou agitação (em casos mais raros) 

Em crianças e idosos, a sensibilidade pode ser maior. Por isso, sempre é indicado começar com doses baixas e aumentar progressivamente (start low, go slow), como recomenda a prática clínica baseada em evidências. 

Quer entender mais sobre efeitos colaterais e segurança da cannabis? Veja nosso vídeo com o Dr. Caio Urzelin explicando como fazer o acompanhamento do paciente em diferentes faixas etárias. 

Efeitos da maconha no longo prazo: o que a ciência mostra? 

Quando usada de forma controlada, com acompanhamento médico e formulação adequada, a cannabis medicinal tem se mostrado segura mesmo em tratamentos contínuos. 

Mas é importante separar os estudos sobre uso recreativo — onde há consumo sem controle de dose e, geralmente, com altas concentrações de THC — dos estudos médicos, onde o objetivo é terapêutico. 

O que os estudos mostram: 

  • O uso medicinal com CBD não tem efeitos neurotóxicos conhecidos. 
  • O uso prolongado de THC em adolescentes pode impactar funções cognitivas. 
  • Pacientes adultos com histórico psiquiátrico devem ser avaliados com cuidado antes de iniciar produtos com THC. 
  • Em adultos saudáveis, o uso controlado de THC pode ser bem tolerado, mas sempre requer acompanhamento clínico. 

Doses seguras e o papel do profissional de saúde 

A definição da dose ideal vai depender de vários fatores: condição clínica, idade, metabolismo, medicamentos em uso e sensibilidade do paciente. 

Dicas clínicas para prescrição segura: 

  • Comece com doses entre 5 e 10 mg de CBD/dia em adultos 
  • Avalie resposta clínica em até 15 dias antes de ajustar 
  • Em produtos com THC, comece com microdosagens (0,5 a 1 mg) 
  • Documente efeitos adversos e benefícios percebidos 
  • Utilize prontuário eletrônico para facilitar o acompanhamento 

Se você é médico e deseja acesso a uma calculadora de dose, comparador de produtos e outros recursos práticos, experimente gratuitamente a plataforma Kaya Doc. 

Conclusão: efeitos da maconha são diversos — e a chave é o acompanhamento 

A maconha medicinal pode causar uma série de efeitos no corpo e na mente — desde sonolência e relaxamento até euforia e alteração sensorial. Tudo depende da composição do produto, da dose e, claro, do perfil de quem está usando. 

  • O CBD é seguro, tem potencial terapêutico importante e pode causar sonolência. 
  • O THC é eficaz em várias condições, mas requer mais cuidado e supervisão. 
  • A escolha do produto ideal deve considerar o equilíbrio entre benefícios e possíveis efeitos colaterais. 

O mais importante: o uso medicinal da cannabis precisa ser orientado por um profissional de saúde capacitado, com acompanhamento contínuo. 

Se você quer entender mais sobre os efeitos clínicos da cannabis, acesse nossa Central de Estudos ou acompanhe os próximos workshops no Kaya Doc. Informação de qualidade é o primeiro passo para um tratamento seguro. 

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