formas farmacêuticas de cannabis para animais
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O uso da cannabis medicinal já é realidade entre humanos no Brasil e no mundo, e cada vez mais essa prática começa a ganhar espaço também na medicina veterinária. Muitos tutores buscam alternativas seguras para melhorar a qualidade de vida de seus animais, especialmente em casos de dor crônica, epilepsia, ansiedade e doenças degenerativas.

Dentro desse contexto, compreender as formas farmacêuticas de produtos de cannabis para animais é essencial para veterinários que desejam oferecer tratamentos adequados, seguros e baseados em evidências. Assim como ocorre na medicina humana, os produtos podem ser encontrados em diferentes apresentações, cada uma com vantagens, limitações e indicações específicas.

O que são formas farmacêuticas na medicina veterinária

A expressão forma farmacêutica se refere ao modo como um medicamento é apresentado ao paciente, ou seja, como os princípios ativos são preparados para serem administrados. Isso inclui cápsulas, óleos, soluções, sprays, pomadas e outras variações.

No caso dos produtos de cannabis veterinária, a forma farmacêutica é decisiva para determinar:

  • Absorção: o quanto o organismo do animal aproveita do canabinoide.
  • Biodisponibilidade: a quantidade de substância ativa que realmente chega à circulação.
  • Velocidade de ação: se o efeito é imediato ou gradual.
  • Conforto do paciente: facilidade de administração para cães, gatos ou outros animais.

Por isso, o veterinário não deve considerar apenas o canabinoide (como CBD ou THC), mas também em qual apresentação ele está disponível. Se o seu paciente, ou no caso, o seu tutor ainda tiver preconceito com o tratamento de cannabis, conheça algumas dicas para tentar contornar isso.

Óleos de cannabis para animais

Os óleos de cannabis são a forma farmacêutica mais utilizada e conhecida, tanto em humanos quanto em pets. Normalmente, são compostos por extratos de cannabis (CBD isolado, broad spectrum ou full spectrum) diluídos em um veículo como óleo de coco (MCT), óleo de cânhamo ou azeite de oliva.

Vantagens do óleo de cannabis:

  • Facilidade de dosagem com conta-gotas.
  • Possibilidade de administração direta na boca ou misturado na ração.
  • Boa absorção sublingual em cães e gatos.
  • Disponibilidade em diferentes concentrações.

Desafios:

  • Alguns animais não aceitam bem o sabor.
  • Exige orientação para cálculo correto da dose.
  • Pode sofrer variações de absorção dependendo da dieta do animal.

O óleo costuma ser a escolha inicial para o manejo de condições como ansiedade, epilepsia, dor crônica, inflamação e distúrbios de sono em pets.

Cápsulas de cannabis veterinária

As cápsulas oferecem uma forma farmacêutica prática, especialmente para animais de médio e grande porte. Elas contêm doses padronizadas, o que facilita o controle do tratamento.

Benefícios das cápsulas:

  • Garantem padronização exata da dose.
  • Reduzem o risco de erros de administração.
  • Não têm o gosto característico do óleo.

Pontos de atenção:

  • Mais difíceis de administrar em animais que não aceitam comprimidos.
  • A absorção pode ser mais lenta, já que depende da digestão.

Essa forma é indicada para tratamentos de uso contínuo, quando o tutor e o veterinário precisam de maior previsibilidade na dose.

Você sabe onde encontrar diferentes produtos para comparar e entender qual a melhor opção para o seu paciente?

Snacks e petiscos com cannabis

Uma tendência crescente são os petiscos enriquecidos com CBD ou outros canabinoides, como biscoitos, ossinhos ou tabletes mastigáveis. Essa forma farmacêutica é atraente para tutores, pois torna a administração mais fácil e agradável para o animal. É difícil de ser encontrada, porém em mercados internacionais é uma das formas que mais ganha força.

Vantagens:

  • Facilidade de adesão ao tratamento.
  • Reduz o estresse do pet na hora da administração.
  • Pode ser usado como reforço positivo.

Limitações:

  • Dificuldade de precisão na dose (varia com o tamanho do petisco e com o apetite do animal).
  • Pode conter ingredientes não ideais para animais com restrições alimentares.
  • Nem sempre têm comprovação laboratorial da quantidade exata de CBD.

Os petiscos são mais indicados como complemento do tratamento, não como forma exclusiva em casos que exigem maior controle terapêutico.

Sprays orais e soluções líquidas

Uma das formas farmacêuticas de cannabis para animais comum é o spray oral, que permite aplicação direta na boca ou sob a língua do animal. Essa apresentação busca melhorar a absorção e simplificar a administração.

  • Vantagens: absorção rápida, dose ajustável e boa alternativa para pets que não aceitam óleo.
  • Desvantagens: alguns animais podem rejeitar a aplicação; custo geralmente mais elevado.

Os sprays são úteis em situações que exigem efeito mais rápido, como crises de ansiedade ou episódios agudos de dor.

Pomadas, cremes e géis tópicos

Os produtos tópicos à base de cannabis são desenvolvidos para aplicação direta na pele ou em articulações. Normalmente contêm CBD e outros ingredientes com ação anti-inflamatória ou analgésica.

Indicações comuns:

  • Dermatites.
  • Feridas superficiais.
  • Inflamações articulares locais.
  • Dores musculares.

Vantagens:

  • Efeito localizado.
  • Baixa absorção sistêmica, reduzindo riscos de efeitos adversos.
  • Fácil aplicação em áreas específicas.

Cuidados:

  • Animais podem lamber o local da aplicação, reduzindo a eficácia.
  • Não substituem o uso sistêmico em casos graves.

Diferentes espectros e concentrações

Ao falar de formas farmacêuticas de cannabis para animais, não basta olhar apenas para cápsula, óleo ou pomada. É fundamental também avaliar o tipo de extrato:

  • CBD isolado: contém apenas canabidiol. É considerado mais seguro em animais, já que não possui THC.
  • Broad spectrum: inclui vários canabinoides e terpenos, mas sem THC.
  • Full spectrum: contém todos os compostos da planta, incluindo pequenas quantidades de THC (que pode ser tóxico para alguns animais, especialmente gatos).

A escolha do espectro impacta diretamente na eficácia e segurança do tratamento. O veterinário deve sempre avaliar cada caso e acompanhar de perto os efeitos.

Considerações sobre dosagem em animais

Independentemente da forma farmacêutica escolhida, a dosagem continua sendo um dos maiores desafios. Cada animal apresenta características individuais de metabolismo, porte e sensibilidade.

  • Cães: costumam responder bem a doses mais baixas de CBD, mas são mais sensíveis ao THC.
  • Gatos: exigem doses ajustadas e acompanhamento rigoroso, já que podem apresentar reações adversas.
  • Animais de grande porte: podem necessitar de concentrações mais altas ou formas farmacêuticas que permitam maior padronização (como cápsulas).

O princípio do “start low, go slow” (comece com dose baixa e aumente gradualmente) também deve ser aplicado na veterinária.

Regulamentação e responsabilidade veterinária

A regulamentação sobre o uso de produtos de cannabis em animais já é uma realidade no Brasil. Em outubro de 2024, a Anvisa autorizou oficialmente médicos-veterinários a prescreverem derivados da planta para tratamento de animais.

A prescrição exige o uso de receituário de controle especial e só pode ser feita por profissionais devidamente registrados no Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV). Isso garante maior segurança e rastreabilidade no uso clínico.

Como funciona a prescrição de cannabis por veterinários:

  1. Profissional habilitado: apenas médicos-veterinários registrados no CFMV podem prescrever.
  2. Receituário especial: a prescrição deve ser feita em formulário de controle especial, como já ocorre com outros medicamentos controlados.
  3. Produtos regulamentados: a prescrição deve incluir apenas medicamentos com registro e autorização da Anvisa ou do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).
  4. Manipulação proibida: a manipulação de produtos à base de cannabis continua proibida em farmácias de manipulação.
  5. Tratamento individualizado: cada prescrição deve ser adaptada ao paciente, com ajustes de dose e acompanhamento contínuo para garantir eficácia e segurança.

Conheça algumas das melhores práticas para a prescrição de canabidiol!

Cuidados importantes:

  • Além dos produtos autorizados pela RDC 327/2019, veterinários também podem prescrever produtos de associações, desde que estes estejam regulamentados.
  • Como, em tese, o uso veterinário não está autorizado na RDC 660, é preciso cautela com produtos importados.
  • A prescrição deve sempre priorizar a segurança do animal, com orientação clara aos tutores e registro detalhado em prontuário, inclusive as formas farmacêuticas de cannabis para os animais.

Se você ainda não começou a prescrever, conheça diferentes ferramentas de prescrição.

Onde buscar informações oficiais:

  • CFMV (Conselho Federal de Medicina Veterinária): responsável por orientar o uso ético e responsável da cannabis na prática veterinária.
  • Anvisa: responsável pela aprovação e fiscalização dos produtos derivados de cannabis.
  • MAPA: avalia eficácia, segurança e qualidade dos medicamentos veterinários à base de cannabis.

Essa regulamentação representa um marco para a medicina veterinária brasileira, trazendo mais respaldo legal e segurança no cuidado dos animais. Conheça diferentes canais em que você pode se atualizar!

Perspectivas futuras para a cannabis veterinária

Com o avanço das pesquisas, espera-se que cada vez mais formas farmacêuticas de cannabis específicas para animais sejam desenvolvidas o que vai trazer maior precisão e segurança no tratamento. Já existem estudos clínicos em andamento em países como EUA e Canadá, explorando o potencial do CBD no controle da dor, epilepsia e distúrbios comportamentais em pets.

Essa tendência indica que, em breve, veterinários poderão contar com uma gama ainda mais ampla de opções — desde formulações tópicas inovadoras até alimentos funcionais enriquecidos com canabinoides.

Para se aprofundar nesse tema, recomendamos acompanhar estudos científicos revisados na nossa base de pesquisas e os conteúdos educativos do Kaya Doc, que reúne materiais sobre prescrição, produtos e evidências clínicas.

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